Por Toby Sterling
AMSTERDÃ (Reuters) - Os holandeses irão votar na quarta-feira em uma eleição vista como um teste do sentimento anti-imigrante existente no país antes mesmo de uma desavença com a Turquia durante o final de semana colocar a imigração e o nacionalismo no topo da agenda política.
Geert Wilders, que quer "desislamizar" a Holanda, espera que os atritos entre os manifestantes turco-holandeses e a polícia, além das acusações de "fascismo" holandês, aumentem suas chances de vencer o pleito.
O Partido da Liberdade (PVV, em holandês) de Wilders não tem virtualmente nenhuma chance de formar um governo diante do quadro político fragmentado. Outros partidos descartaram uma coalizão com uma legenda que veem como racista, mas uma vitória do PVV enviaria ondas de choque por toda a Europa.
A eleição presidencial francesa tem a líder de extrema-direita Marine Le Pen à frente no primeiro turno, marcado para o mês que vem, segundo pesquisa divulgada nesta segunda-feira, e é provável que em setembro o Alternativa para a Alemanha, um partido de direita eurocético, conquiste cadeiras no Parlamento federal alemão pela primeira vez.
Após o referendo que decidiu a inesperada desfiliação britânica da União Europeia e a eleição do eurocético Donald Trump nos Estados Unidos, em breve a Europa irá descobrir se uma onda de sentimento antiestablishment representa uma ameaça iminente à sobrevivência da UE.
A questão mais imediata na Holanda é se a tensão com a Turquia irá favorecer Wilders ou o primeiro-ministro, Mark Rutte, cujo gabinete proibiu ministros turcos de discursarem em eventos políticos em seu país.
O governo turco quer angariar apoio dos turcos holandeses para um referendo marcado para 16 de abril no qual pede a ampliação dos poderes do presidente Tayyip Erdogan.
Uma pesquisa do empreendedor e pesquisador Maurice de Hond divulgada no domingo mostrou que 86 por cento dos eleitores holandeses aprovam a maneira como Rutte está lidando com a disputa com Ancara.
"Em momentos nos quais a nação está sendo atingida por algo assim, existe nas pessoas a inclinação de apoiar o governo", opinou Hans Gosling, comentarista político do jornal holandês Trouw.
A abordagem severa de Rutte em relação à Turquia é vista por muitos eleitores como parte de um esforço dos maiores partidos de apelar às preocupações relativas à imigração e dissuadi-los de votar em Wilders. Também no domingo, o líder dos conservadores Democratas Cristãos (CDA) exortou os imigrantes turcos a desistir da dupla nacionalidade e se integrarem.
A última compilação de pesquisas da Reuters coloca o partido conservador VVD de Rutte na liderança com 16,2 por cento, à frente dos 13,4 por cento do PVV de Wilders e dos 12,5 por cento do CDA, que no entanto vem mostrando tendência de crescimento.
(Reportagem adicional de Stephanie van den Berg)